Pai: Francisco Ferreira de Souza
Mãe: Maria da Gloria Ferreira de Souza
Data de nascimento: 30/11/1922
Data de falecimento: 29/06/2005
Naturalidade: Rio de Janeiro-RJ
Biografia
Ir. Zilah foi aluna do Colégio Santa Teresa, na Tijuca, dirigido pelas Irmãs Teresianas, mestras e grandes amigas, desde o Jardim da Infância, até o fim do Ginásio. O curso colegial ela o fez, no Colégio Coração de Jesus de Campinas, como aluna interna. Foi então que eu, jovem professa, a conheci. Conhecê-la, amá-la e ser presenteada com uma grande amizade foi uma coisa só! Também era muito fácil ser amiga daquela carioquinha de sorriso largo, coração sempre pronto para o acolhimento, cheinho de música, rico de afeto! Sagaz, empreendedora, imaginação fértil, se fazia presente, em toda parte, preparando homenagem para as Irmãs, em datas importantes, ajudando no cuidado com as aluninhas mais novas cuidando de Inah, sua irmãzinha adotiva, que ela amava de paixão, ajudando Ir. Cecília, na rouparia do Internato, ensaiando os cantos litúrgicos para o ofício divino, organizando festinhas do Internato. Difícil encontrá-la desocupada!
No meio de tudo isso, lá no fundo do seu coração generoso, Alguém lhe sussurrava baixinho: Vem e segue-me! Vem e segue-me!… Ela começou a responder: Sim, Jesus, eu quero Te seguir… Foi por querer responder ao Amor Maior que ela começou a se preparar para enfrentar a resistência de Dona Maria da Glória, sua mãe. O curso colegial estava chegando ao fim. Era preciso deixar o “Coração de Jesus”. Em surdina, ela preparava seu enxoval de postulante, assessorada por Ir. Cecília. A Nelly Teresinha e a Hilda Latorre a ajudavam minhas amigas e colegas de Faculdade, elas me confiaram seu segredo. Eu rezava quetinha, pedindo a Deus que abrandasse o coração de Dona Maria da Glória. Chegaram as férias, a formatura e com elas, sua mãe Dona Maria da Glória intuitiva e, conhecedora do sonho da Zilah, foi se hospedar no Colégio, com medo de que a filha lhe aprontasse “alguma”. Pediu para dormir com ela, na mesma cama e, por segurança, prendeu com um alfinete sua camisola à de Zilah. Mas… como quem não sai aos seus degenera, Zilah era tão esperta, ou talvez mais do que a mãe.
Conseguiu escapar de mansinho, sem acordá-la. Temendo que a mãe fosse à sua procura, pediu às duas amigas que a maquiassem, arrumassem lhe os cabelos, para não ser reconhecida. E lá se foi ela, com a Nelly e a Hilda, tomar o trem para São Paulo, com destino ao Noviciado Calvariano, no Bosque da Saúde. Madre Margarida, Ir. Cecília e eu, que sabíamos da fuga estávamos na capela, às 5:30 da manhã: oração e meditação da Comunidade, a gente rezando… De repente, a porta da Capela se abriu e Dona Maria da Glória, em prantos: – Ir. Margarida, a Zilah fugiu de mim! Tentando acalmá-la, Madre Margarida a levou para o escritório, prometendo-lhe: – Dona Maria da Glória, fique tranqüila. Nós vamos encontrar sua filha… Mas ela quis logo ir em sua busca. Foi assim que as Irmãs a levaram até o Noviciado, em São Paulo, destino da Zilah.. E ela se instalou lá. Só sairia, se a filha a acompanhasse. Nem uma nem outra arredava o pé. Dona Maria da Glória ouvira dizer que filha de “mãe louca” não podia ser religiosa. Vai daí que ela começou a ter uma série de comportamentos próprios de doentes mentais: bebia café na boca do bule, batia o sino do claustro, falava em voz alta pelos corredores…. Zilah se comunicava com sua tia e madrinha, Dona Elvira, do Rio de Janeiro, pedindo-lhe que viesse buscar sua mãe. Mas Dona Elvira não a convencia. Propôs então à Zilah: – Eu vou buscá-la. Você vem comigo, eu lhe garanto que acalmando a poeira, eu mesma a levarei de volta. Era uma saída honrosa; e deu certo. Algum tempo depois, com o consentimento de Dona Maria da Glória, a nossa Ir. Zilah voltava para o Noviciado, feliz por realizar sua vocação à Vida Consagrada. Depois sua vida decorreu como a de todas as vocacionadas: tempo de Noviciado, votos temporários, votos perpétuos.
Durante esse tempo, freqüentou a Faculdade de Canto Orfeônico, conservatório de Piano, trabalhou como educadora e professora de música, em Catanduva e no Colégio Coração de Jesus. Fundou no “Coração de Jesus” um conservatório de Piano e canto orfeônico, reconhecido pelo governo, formando inúmeras artistas, inclusive a Ir. Umbelina, uma de suas alunas mais bem dotadas. Também, durante alguns anos, foi mestra das aspirantes (Juvenato), preparando vocacionadas à Vida Religiosa. Quantas de nossas Irmãs aprenderam com ela, a dar os primeiros do “Vem e Segue-me”. São também boas cantoras e pianistas: Ir. Teresinha Mauro, Ir. Helena Maria, Ir. Umbelina, Ir. Nair Reis, Ir. Maria Emília, Religiosa Agostiniana, e muitas outras que produziram flores e frutos pelo mundo afora… Ainda em Campinas – Foi transferida para o Lar Madre Cecília. Cuidou das meninas órfãs, que ela amava com carinho de mãe! Precária era a situação financeira do Lar. “Perseguidora das boas causas” como era, conseguiu fundar um Jardim de Infância para pessoas de posse do Bairro Cambuí e assim garantir o sustento das orfãnzinhas. Ir. Teresinha Corsi, grande amiga da Irmã Zilah e da Ir. Miriam, foi sua companheira e colaboradora. Para conseguir alunos, ela percorreu o Bairro, rua por rua, solicitando dos pais que matriculassem os filhos no “Jardim da Infância Madre Cecília”.
O Jardim da Infância cresceu e se transformou em Ensino fundamental e Médio, no Colégio Madre Cecília, no Cambuí, dirigido até bem pouco tempo, por Ir. Teresinha Corsi, sua companheira de caminhada. Do Lar Madre Cecília, Ir. Zilah veio para Catanduva, partilhando com nossas alunas do Colégio, sua arte, sua capacidade de doação, seu elã apostólico. Encontrou-se, de novo, com Ir. Miriam e com Ir. Coração de Maria, com Ir. Raquel e comigo. Todas amigas suas. Trabalhávamos juntas no Colegião quando se iniciou nosso longo processo de desmembramento da Congregação Calvariana. Ir. Zilah e Ir. Raquel, mais do que todas, assumiram comigo e com o Pe. Xavier, as lutas daquela dolorosa separação. Cada momento difícil lá estavam elas, atentas, corajosas, procurando a solução que mais se aproximasse da vontade de Deus. Dom José Castro Pinto, Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro era amigo de Ir. Zilar.
Ela solicitou uma audiência com ele e nós duas fomos ao Rio para pedir-lhe orientação e ouvir seus conselhos. Ir. Zilah me preveniiu: “Dom José é muito sério, mas é muito bom. Não se ausente com seu ar meio carrancudo”. Ouviu-nos pacientemente, compreendeu nossa situação e até sorriu algumas vezes… Prometeu nos ajudar naquilo que lhe fosse possível. Agradecemos sua bondade, ele nos abençoou e nós passamos pela Igreja, ao lado da cúria, para dar graças a Deus Nosso Senhor, pelo êxito da entrevista. Ir. Zilah comentou: – “Nossa Madre, a senhora conseguiu fazer Dom José sorrir! Ir. Zilah queria comunicar-se com Mariluce, hoje Ir. Mariluce, grande amiga dela, que morava com as Irmãs Calvarianas, na Gávea! Não é que, quando saíamos da Igreja e íamos atravessar a praça, para tomar o metrô, demos de cara com Mariluce?! Irmã Zilah a pôs ao par de nossa situação. É que Mariluce aguardava o resultado final de nosso processo de desmembramento, para vir se juntar a nós. O tempo foi passando… passos foram dadas… e chegou o momento em que precisávamos de um canonista para nos orientar quanto à documentação a solicitar de Roma, nosso desmembramento e pedido de dispensa dos votos perpétuos emitidos no “Calvário”. Ir. Zilah recorreu a Dom José Castro Pinto que, fiel à sua promessa, imediatamente enviou a Catanduva, o canonista da Arquidiocese, Padre Alejandro, que nos orientou muito bem; tão bem que foi o mesmo processo atualizado, que o enviamos para a Sagrada Consagração dos Religiosos, quando nosso pedido de registro das Comunidades de Nossa Senhora da Ressurreição, em Roma. A vida foi seguindo para a frente… Dom José de Aquino instituiu as Comunidades da Ressurreição. Renovamos nossa Profissão Religiosa, no dia 29 de Junho de 1971. Começamos a reorganizar nossos trabalhos, com as forças que tínhamos. Tivemos que recindir nosso convênio com a Promoção Social do Estado, para manutenção do Orfanato. Mas precisávamos manter a finalidade do Lar Ortega – Josué: assistência e promoção aos mais necessitados. Ir. Zilah assessorada por Ir. Umbelina e por mais algumas Irmãs, assumiram sua direção. O que iríamos fazer? Ir. Zilah fez uma pesquisa, à procura do que Catanduva mais precisava no momento. Resultado: Ainda não havia, na Cidade, nem Senai, nem Senac, nem Sesi, nenhuma mão de obra qualificada.
Criou uma infinidade de cursos destinados a formar mão de obra: Marceneiro, pintor, pedreiro, encanador, enfermeiro, datilógrafo, cabelereiro, manicure, pintura em tecido, corte e costura, bordado, protocolo e arquivo, empacotamento… cada necessidade que surgia, surgia também a solução: novos cursos, todos gratuitos. Ir. Zilah fez convênios e parceria que garantiam a manutenção. Até a “Miserior”, da Alemanha lhe enviou verbas para compra do equipamento da Marcenaria. Os cursos funcionaram regularmente, formando operários e operárias, que saíam levando um certificado, garantido pelo Senac e Pipmo, respectivamente, de São José do Rio Preto e de São Paulo, até que surgiram, em Catanduva, os cursos formadores de mão de obra, criados pelo governo. Em meio a tudo isso, ela acalentava um sonho: levar para o Rio de Janeiro, sua terra natal, um pouco de seu entusiasmo e de seu elã de educadora. Era o ano de 1975. O sonho começava a se tornar realidade. Sua mãe, falecida há pouco tempo, lhe deixara de herança, entre outros bens, um apartamento na Rua Almirante Gavião, na Tijuca. Ela propôs ao Conselho ir para o Rio, preparar terreno para fundação de uma Escola. Sua proposta foi aprovada. Daí em diante era só deixá-la agir. Em agosto deste mesmo ano, estávamos indo para o Rio: Ir. Letícia, Ir. Zélia, ela e eu.
Ela já tinha mobiliado o apartamento e transportado para lá, Piano, Máquinas de costura e de Datilografia, e muita coisa mais… O fusquinha azul, presente de Dona Maria da Glória, fora trocado por uma Variant, que ela lotou com tudo que cabia dentro dela. Dirigida pelo motorista de Dona Anita Monteleoné, partimos para a fundação: Paramos em Taubaté, afim de pedir ao Pe. Xavier que nos abençoasse e à tardinha chegamos ao Rio. Ir. Zilah trazia com ela 3.000 cruzeiros e víveres que garantiam, por um pouco de tempo, a manutenção das Irmãs. A Providência Divina nunca nos faltou! Desta vez, sua ação se fez presente, através das Irmãs Teresianas, do Colégio Santa Teresa: Ir. Zélia, excelente costureira, foi contratada como “modista” das Irmãs. Na hora do pagamento, elas acrescentavam uma quantia, além do que era pedido… Surgiram também algumas alunas de Datilografia.
Irmã Zilah passou a receber a aposentadoria devida à Dona Maria Glória. Ir. Zélia, ela, até eu, passamos a procurar uma propriedade, perto de alguma Igreja, onde fosse possível começar uma Escola afinal surgiu uma possibilidade: uma Escolinha, situada na “tranqüila” Alzira Brandão estava à venda, bem perto da Igreja São Francisco Xavier e do Colégio Santa Teresa. Era tudo que a gente precisava!… Não sei bem com que recursos, só sei que logo estávamos lá, arrumando acomodação para as Irmãs, preparando salas de aula, secretaria, biblioteca, tudo que seria necessário para solicitar da DRE o funcionamento da “Escola Nossa Senhora da Ressurreição”. Os cômodos do 1º andar que serviriam de salas de aula eram feias demais… Ir. Zilah conseguiu alguns cartazes, e me encarregou de, com eles, esconder a feiúra das salas. Só que os cartazes também eram feios… eu olhava para eles meio desanimada e Ir. Ir. Zilah achou que eu estava cansada… e começou a se desculpar e me pedir que a perdoasse e parasse para descansar. Tanto fez, que eu me aborreci: – Sabe de uma coisa, Ir. Zilah, se você insistir eu vou embora amnhã! Ela me deixou em paz. A casa estava mais ou menos em ordem, no interior, mas a fachada, feia demais… era preciso melhorar a aparência do prédio. Ir. Zilah sentia que era necessário fazer alguma propaganda pelo jornal. Mas, com que dinheiro? Era domingo. Logo depois da Missa, ela vestiu um avental, armou-se de tinta e brocha, arranjou uma escada, emprestada do Getúlio, vizinho, e se pôs a pintar a fachada. Um repórter do Jornal do Brasil passou por ali, e vendo-a achou que daria reportagem para seu Jornal e abordou – a: – Oh, Irmã, a senhora trabalhando pesado, em dia de domingo? E ela: – Ah! Eu já fui à Missa e pedi licença a Deus Nosso Senhor para pintar a fachada de nossa escola, que está feia demais.
Ele sabe que nós não temos dinheiro para pagar um pintor!… O repórter tirou retrato dela, em cima da escada e no dia seguinte, lá na 1ª página do Jornal do Brasil, em grande estilo, saía a propaganda de que nós precisávamos… São coisas da bondade Divina! (No arquivo da Casa Mãe, encontra-se um exemplar do Jornal). – Ficava mais em conta, comer de pensão, do que fazer as refeições em casa. A ração de uma pessoa dava para duas. Afim de reforçar a nossa receita, Ir. Zilah recebeu dois ou três alunos semi-internos, que almoçavam conosco. Ir. Letícia escondia as marmitas que vinham da pensão portuguesa receiosa de que as mães reclamassem que a comida não era feita por ela… *** O Padre Juca, vigário da Paróquia São Francisco Xavier preocupado com as Irmãs, gracejava: – Acho que vocês andam passando fome. Qualquer dia, vou aparecer aí de surpresa, para almoçar com vocês… Claro que nunca chegou a tanto! Bondade do Pai do Céu, através de pessoas como Pe. Juca! Por ocasião da Campanha da Fraternidade daquele ano, a Paróquia São Francisco Xavier partilhou com as Irmãs o resultado da Campanha. Monsenhor, o pároco, quis doar-nos um terreno no alto de um morro, para construção da escola.
Dom Castro Pinto, consultado por Ir. Zilah, aconselhou: – “Não queira, não, Ir. Zilah.. É presente de grego”. Ir. Zilah adoeceu. Febre, tosse, dores pelo corpo. Uma gripe daquelas! Ela, que arrumara quarto para as Irmãs, capela para Jesus e dormia em caminha probel que ela armara à noite, na sala de aula e, de manhã, a escondia atrás do Piano. Ir. Letícia, perguntou-lhe: – Ir. Zilah, o que a gente pode fazer para aliviar sua gripe? – Ah! Ir. Letícia, eu só queria uma cama, que não precisasse desarmar de manhã!… A Escola preparou a festa Junina. Ir. Fátima e eu viemos ajudá-las. Nós duas nem sempre entendíamos a linguagem e o sotaque carioca… – Irmã, duas fritas, por favor! E nós duas sem saber o que desejavam. Mas depois aprendemos. Ir. Mariluce, agora professa, veio se juntar à pequena comunidade. Era a tesoureira da festa. Temendo um “assalto”, colocou parte do dinheiro numa sacola e jogou-a atrás de uma carteira. A festa acabou, somando o resultado, sobrou quase nada. Também a festa visava mais o lazer e congraçamento das famílias. Tudo bem! Um dia, a Ir. Zilah, sempre em apuros por falta de dinheiro, precisava saldar uma conta… Como, meu Deus? Remexendo na secretaria, descobriu a “sacola”, que Mariluce escondera de medo dos “ladrões” e não se lembrava mais… *** A Escolinha estava tomando alento e Ir. Zilah sempre à procura de um lugar perto de Igreja e das Irmãs Teresianas, suas ex-mestras, muito amigas, que lhe serviam de retaguarda e socorro nas horas de muito apuro. Reza e esforços não faltavam!… Até que acabou encontrando: uma casa de cômodos, que no Rio costumavam chamar, de “cabeça de porco”, numa área de 500 m, na Rua Oto de Alencar, pertinho do Colégio Militar com sua Capela e Missa diária, não longe do Colégio santa Teresa. Um empréstimo, com juros baixos, coisas que só a persistência e a fé de Ir. Zilah podiam conseguir, lhe permitiu adquiri-lo. O casarão, que precisava ser demolido, cheio de inquilinos. A custa de rogos, ameaças de despejo e algum dinheiro, eles saíram e começou o trabalho de construção do Colégio.
De novo, Ir. Zilah recorreu ao empréstimo da Caixa Econômica. Juros baixíssimos: 4% de juros mais correção monetária. Para consegui-lo, ela teve que ir a Brasília. Ir. Liliam, salesiana, sua amiga, era amiga também de ministros e políticos importantes, conseguiu para ela, uma entrevista com o Ministro da Fazenda. Ao serem recebidas, o Ministro disse: há poucos dias atrás eu já indeferi esse pedido, mas vou revê-lo… Frente ao olhar suplicante de Ir. Zilah, ele resolveu: “vou mudar, a data para hoje e aprová-lo! Deus não émesmo bom demais!? Só que havia uma cláusula: a caixa desembolsava a quantia necessária à medida que a obra ia sendo concluída, parte por parte… Recorremos ao gerente do Banco Nacional, Sr. Célio de Monte com o dinheiro do empréstimo ela tocava a obra. Foi assim que ela construiu o belo prédio, “Colégio Nossa Senhora da Ressurreição”, Rua Oto de Alencar, Nº 23 – Tijuca – Rio de Janeiro. É lindo e importante! Toda vez que Ir. Zilah ia me apanhar na Rodoviária e chegávamos lá, gracejando eu lhe perguntava: – Ir. Zilah, de quem é este Colégio tão lindo? Invariavelmente, ela respondia: – É seu, Madre!!! A música ambiente e as Irmãs, me aguardando no pátio, completavam a alegria e a emoção da chegada. Deus é bom demais! ********** – “ Mais ou menos, por está época. Estávamos viajando para Catanduva: Ir. Zilah, Ir. Carolina e eu Ir. Carolina dirigia a Veraneio vinho carregada de malas e mais uma porção de coisas. A viagem decorreu tranqüila, estávamos mais ou menos a 5Km da Basílica de Aparecida, nossa próxima parada, para pedir a bênção a Nossa Senhora. “ Foi numa manhã chuvosa, persistente encharcando o asfalto estávamos nós três na frente da veraneio vermelha, por volta de 12h mais ou menos, não tínhamos nem almoçado. Estava indo tranqüila pela Dutra quando de repente um sujeito me ultrapassa e me fecha com seu opala bege.
Foi tudo tão rápido que na hora eu Ir. Carolina não sabia como segurar a Vraneio, ela deslisava pelo asfalto molhado, pois era uma decida e do lado direito um prepicípio, vi na hora tudo se perder. Se eu deixasse a Veraneio ela bateria no opala e capotávamos, se eu jogasse para a direita cairíamos no precipício, se jogasse à esquerda cairíamos no canteiro do meio, tentei brecar, mas não segurou, então a madre naqule instante gritou com todas as forças da fé. _ “Nossa Senhora Aparecida !!!” E uma força maior, veio do coração de Nossa Senhora: Imediatamente a Veraneio parou. Na mesma hora dois senhores bem vestidos, de terno, vieram até nós: _“ Minha filha , tudo bem com vocês? _ Sim, tudo bem, graças a Deus. _ Então vão com Deus, tem muita gente fazendo coisas erradas nestas estradas, temos que ter muito cuidado, acrescentou: olha o rasto que a veraneio deixou na estrada. Aconteceu pertinho de Aparecida do Norte,.Tomamos todas as providências, só conseguimos acabar tudo por volta das 21h, acabamos indo pernoitar na casa do Pe. Xavier, que nos acolheu muito bem.
Foi a melhor alternativa. O mais engraçado de tudo é que a Ir. Zilah estava vivendo tudo muito feliz, pois a preocupação era só minha e da madre, ela só estava curtindo tudo muito bem, na dela, como se nada mais existisse. Fomos até a concessionária, Chevrauto. Fizeram um checap e constataram que a veraneio precisava ficar lá para o conserto. A lataria estava intacta, mas o eixo todo retorcido. Tivemos um final feliz, mais uma batalha vencida, com a proteção de Nossa Senhora. *** A gente podia pensar: agora Ir. Zilah vai sossegar… Ledo engano! Ela sonhava grande demais: – a casa do Sr. Ribeiro, anexa ao Colégio, para ampliação do prédio e do pátio. – Apartamento perto da praia para descanso das Irmãs – Escola, no Recreio dos Bandeirantes. Ela entregou as armas e só consentiu repousar, tendo visto se realizarem todos esses sonhos. – A Casa do Sr. Ribeiro era habitada por ele e pela esposa, mas pertencia a 4 herdeiros. Quanta medalinha de Nossa Senhora, ela atirou no telhado da casa desejada e quanta reza! O Sr. Ribeiro veio a falecer e os herdeiros precisavam vender o prédio para partilhar a herança. Cada um queria receber 10.000 reais. A esta altura, o Colégio tinha prosperado e ela pôde adquirir o imóvel, com recursos nossos, sem empréstimo. – Apartamentos perto da praia. Ele está lá, não um apenas, mas três apartamentos, conjugados, tomando todo o 1º andar do Prédio nº 275, na Rua Hugo Panasco Alvim – Recreio dos Bandeirantes.
Quanto serviço, quanto merecido descanso, quanta alegria, eles têm proporcionado às Irmãs, aos nossos professores, aos nossos familiares e aos nossos amigos!…, graças a Deus e à nossa “perseguidora das boas causas”. – Escola no Recreio dos Bandeirantes. Com seu jeitinho maroto, simples e generosos, ela estava sempre cercada de bons amigos e colaboradores, entre eles o Dr. Paulo, arquiteto. Mais que colaborador, mais que amigo, ele, era, para ela, um filho querido. Foi através dele, que ela conseguiu comprar os apartamentos da Hugo Panasco e mais um, bem mais rico, pertinho da Paria e os terrenos onde seria construído o Colégio. Quantos vezes, viemos com ela e Dr. Paulo, rever os terrenos, medi-los, verificar sua localização!… Que Saudades!… Dentro da área que lhe interessava, erguia-se a casa do Sr. Pedro, cercada de Jardim e pomar, uma casinha de madeira, que estava à venda e bela “casa da Vilma”, com piscina, poço artesiano, edícula, garagem, jardim. Não é que Irmã Zilah conseguiu adquirir tudo isso? Somando tudo, mede 4.500 ms2, mais ou menos. O prédio do Sr. Pedro foi trocado pelo belo apartamento de perto da praia. Tudo mais ela adquiriu com recursos da Escola da Tijuca, aposentadoria de Dona Maria da Glória e uma herança, que lhe adveio de seu pai. Eram seringais situados no Acre. Em pouco tempo, ela conseguiu transformar, em escola,a casa do Sr. Pedro, a casinha de madeira e a casa da Vilma; construir área coberta para recreação dos alunos, quadra de esportes, banheiros, cantina e tudo o mais que era exigido, pela DRE, para funcionamento.
Depois de tudo isso, naturalmente que minha amiga, minha filha muito querida, só podia estar nuito cansada!… Mas o cansaço ainda compensado pela alegria de ver em funcionamento, a “Escola Ressurreição”, situada à Avenida Gilka Machado, 1529, no Recreio dos Bandeirantes. Um milagre de coragem e de esperança, a minha Irmãzinha! A escola começou a funcionar com apenas 47 alunos… mas que importava? – Só isto: a semente estava lançada na Terra, alimentava e adubada pela dedicação, pelo carinho, pela esperança, pelo carisma empreendedor de Ir. Zilah! Os seus sonhos se realizaram! Ela podia dizer com Sr. Paulo: “Combati o bom combate! Guardei a minha Fé! Terminei a minha corrida! Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor me entregará Naquele Dia!” (2Tm 4, 7-8). Mas “Aquele Dia” ainda não tinha chegado, Ir. Zilah! O Artista Divino queria dar a última demão na sua Jóia preciosa! Os seus Caminhos não são os nossos caminhos… Uma pequena e quase desnecessária cirurgia, um erro médico e um derrame a prenderam ao leito e a uma cadeira de rodas, durante oito longos e dolorosos anos, depois de passar 30 dias na U.T.I. do Hospital Pró-Cardíaco, onde fui vê-la todos dias, na esperança de que abriria os olhos. Contra sua vontade, porque não queria nos incomodar, a Shelly, sua sobrinha nos avisou e Pe Xavier, Edgar, Ir. Umbelina, Ir. Carolina e eu viemos de Catanduva, para estar com ela antes da cirurgia. Padre Xavier e eu entramos em seu quarto, no hospital. Ela ficou um pouco constrangida; não esperava nossa visita. Pe. Xavier disse-lhe algumas palavras para encorajá-la, ela sorriu, agradeceu e a enfermeira a levou para o centro cirúrgico. Fátima Gorette nos contou que antes de ser anestesiada, ela pediu: – Fátima, por favor, peça que não deixem minhas duas escolas “morrerem”. Suas escolas estão bem vivas, não é, Ir. Zilah? E depois ela não falou mais a não ser pelo brilho dos olhos, pela expressão do rosto ou pelo aperto de sua mão esquerda segurando nossa mão. Tanta gente, nós todas, os amigos, os professores, os alunos, todos, suplicamos com profunda Fé e mais esperançosa Esperança, o milagre de sua cura!
O milagre de sua cura não aconteceu…. Aconteceu porém, um milagre maior. Aquela que, quando eu insistia com ela, para repousar um pouco mais de manhã, me dizia, brincando: – “Não consigo, Madre. A cama me expulsa”… prisioneira no leito, como em uma cruz, nunca se queixou. Nem um ai, nem uma impaciência com as enfermeiras, lutando contra a doença. Submetia-se aos tratamentos, às transferências de um hospital para outro, ás cirurgias, sem um lamento. Ainda no Pró-Cardíaco, Dr. Luís Antônio, seu médico, nos chamou, Ir. Umbelina, sua sobrinha médica, sua irmã e eu e nos preveniu: “Ir. Zilah está pior. Dentro de 3,4 dias, ela poderá faclecer”. Foi como uma punhalada em meu coração… – “Ah, Doutor, pelo amor de Deus, não diga isto”! Mas a “perseguidora das boas causas” queria sarar, não morrer! Conseguimos tira-la da U.T.I. e depois, do hospital. Passou a ser tratada em casa, assistida pela AMIL. Todas às vezes que piorava, era preciso levá-la para os hospitais: ora o Amparo Feminino, ora Hospital São Francisco da Penitência, ora Hospital da AMIL, em Ipanema… Enquanto Ir. Umbelina, Ir. Angelina, Ir. Letícia e Ir. Teresa Cervato cuidavam das duas Escolas, conservando-as “vivas”, Ir. Carolina, Ir. Zélia e eu cuidávamos da Ir. Zilah, acompanhando-a e assistindo-a em sua via-sacra de dores. Por ocasião de uma dessas transferências de um hospital para outro, Ir. Carolina precisou buscar um documento e eu fiquei aguardando a ambulância que iria transportá-la. A ambulância chegou. Médico e enfermeiros foram buscá-la. Ela estava muito mal. O médico me disse: – Temos que tirá-la desta crise. Não sei chegará ainda viva, em Ipanema. E colocaram-na na U.T.I. da ambulância.
Eu, sozinha, de pé, ali, na calçada… o que estaria acontecendo lá dentro? Depois de um tempo que me pareceu eternidade, o médico veio dizer-me que ela já poderia ir para o hospital. Estava superada a crise. Entrei ao lado do motorista na ambulância e ele voou pelas ruas movimentadas do Rio, nem ligando para os sinais do trânsito. Percebendo quanto eu estava tensa, ele quis me sossegar: – Não tenha medo, Irmã, eu estou acostumado a este trânsito. Eu nem dava conta da velocidade. Estava inteirinha lá dentro da ambulância, com a minha filha, rezando para que ela chegasse viva ao hospital! Ela chegou! Eu não a vi. Só fui vê-la depois que ela já estava instalada na U.T.I… Passou por duas cirurgias do intestino; venceu as duas e voltou para casa. Admirável a dedicação das Irmãs! Mais que todas de Ir. Zélia, sua amiga de muitos anos, desde o “Calvário”. Somente o cuidado com a capela e com a Ir. Zilah preenchia todo o seu tempo. Jamais a deixava sozinha, rezava o Terço e as Horas do Ofício Divino a seu lado, administrava-lhe a sagrada comunhão, assistia-a no tratamento com o fisioterapeuta e a fono, presidia a sua alimentação, cuidava de sua roupa; de sua cama. Dedicação total! Com tempo integral! Nosso Senhor há de recompensar Ir. Zélia, esta fraternal generosidade! Depois das cirurgias do intestino, ela não precisou mais de hospital. Sua saúde, embora precária estabilizou-se. Embora não falasse, este sempre consciente. Com que alegria acolhia os pequeninos que iam visitá-la! Reconhecia todas nós, recebendo-nos com um aperto de mão, que ela segurava com força, para nos reter junto de si.
O banheiro de seu quarto precisava pousar por uma reforma. Ir. Rosângela propôs trazê-la para os apartamentos do Recreio, onde ela ficaria mais bem acomodada. Ir. Umbelina e eu nos alegramos com a proposta. Ir. Zilah ficaria aqui permitindo e a gente, feliz; por poder estar todos os dias com ela! Foi uma verdadeira mudança: cama, cadeira de rodas, uma parafernália, para acomodar as Irmãs e as enfermeiras. A estadia iria durar 15 dias, mas durou quase 2 meses. Não sei se foi devido à mudança, mas cada dia Ir. Zilah parecia mais abatida, mais triste… Lígia, coordenadora do colégio Tijuca me telefonou, dizendo: _ Ir. Zilah deve estar sentindo falta da visita dos pequeninos. Ela ficava muito feliz toda vez que eu os levava para visitá-lo. Fui perguntar à Ir. Zilah: – Você está com saudades de sua casa, na Tijuca? Ela acenou “sim” – com a cabeça. – Você está com saudades das crianças? De novo ela acenou que “sim”. Telefonei imediatamente para Ir. Rosângela: – Mande, agora, todos os operários embora. O Cícero vai aí e termina o que falta. Arrume, por favor, o quarto de Ir. Zilah, amanhã ela voltará para casa. No dia seguinte, ela estava no seu quarto. Mas durou pouco tempo. Suas forças foram sumindo, como uma vela que se consumia… Sem agonia, serenamente, ela fechou os olhos para este mundo! Sua médica, por acaso, estava presente… Nada pôde fazer! Deus Nosso Senhor a chamou e ela, a “perseguidora das boas causas”, ganhava a maior de todas as “causas”. O repouso eterno, a felicidade definitiva, na Casa do Pai!
Era dia 29 de Junho de 2005. Ir. Norma, todas as Irmãs, que puderam, viajaram a noite toda. Queriam dizer-lhe adeus, rezar junto dela e acompanhá-la até sua última morada, nesta terra. Foi tudo tão bonito! Quando gente amiga veio a seu velório, na Capela construída por ela com tanto carinho! No dia seguinte, um grande cortejo a acompanhou até o Jardim da Saudade lindo, imenso, tranqüilo, semelhante ao vestíbulo do Céu! Pe. Ricardo presidiu suas exéquias. Ao canto da ladainha de todos os Santos e de “Com minha Mãe estarei”, nós a levamos ao lugar de sua morada, até o dia da Ressurreição final! *** Ir. Zilah, Que saudades de você! Hoje, recordando acontecimentos de sua vida tão rica e tão bonita, tentando relatá-los sinto a pobreza de minhas palavras! O coração se enternece, e eu tenho vontade de permanecer silenciosa e admirativa diante de minha filha, tão generosa e tão querida! Mas eu preciso conversar um pouco mais com você, lembrar momentos, recordar, talvez, o que você viveu e realizou com mais generosidade e com mais carinho. Sua vida foi marcada, muitas vezes, pela luta, pela dor, pela incompreensão. Você dizia: – De certo que eu tenho que sofrer! Eu nasci no dia de Santo André. Crucificado em xis! Sim, vida marcada pela cruz, porém muito mais pelo bem, pela bondade que a mancheias você semeou ao longo de seus dias. Quero lembrar com muito carinho, sua dedicação, sem tamanho, ao trabalho vocacional. Ninguém, nenhuma de nós, se empenhou tanto em favor das vocações religiosas! Desde o aspirantado calvariano! Quantas e quantas vocacionadas foram preparadas por você, para a Vida Religiosa! Depois aconteceu a “Ressurreição”.
No seu empenho para recrutar e cuidar das vocações, nada a fez recuar! Você semeou boas sementes… Mas elas não frutificaram. Só que você não desistiu. Com certeza, aí, no seu lindo céu, você continuou a “perseguidora da boa causas”! Depois que você mudou para o seu endereço definitivo, aí junto do Papai do Céu, você deve ter insistido com Ele!… Resultado: Três excelentes vocações do Rio de Janeiro, sua cidade Natal! Continue “perseguindo esta boa causa”. Que elas sejam santas religiosas das Comunidades de Nossa Senhora da Ressurreição! E que surjam mais vocacionadas, que possam continuar a sua missão de consagrada junto aos “pequeninos do Reino”. Zilah, eu queria lhe dar essa boa notícia e com você louvar e agradecer a Deus Nosso Senhor, que escuta nossas orações e coroa com êxito nossos esforços. Que hoje e sempre, Ele seja louvado, amado e adorado! A Ele e a Nossa Senhora, nossas ações de graça!
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