Pai: José Alves Carneiro
Mãe: Guilhermina da Conceição
Data de nascimento: 29/9/1924
Data de falecimento: 15/07/1976
Naturalidade: Arthur Nogueira (SP)


Biografia

Catanduva, 20 de abril de 2006.

Aqui estou para tentar cumprir do melhor jeito que me for possível uma tarefa que, Ir. Norma, nossa Coordenadora Geral, me encarregou de realizar: uma pequena biografia das nossas companheiras de caminhada, que nos precederam na mudança definitiva para a Casa do Pai. A incumbência traz consigo o sabor agridoce da saudade! Um após outro, o rosto amigo, o jeitinho afetuoso de cada uma, perpassa a memória do meu coração e acorda nele o mundo saudoso do meu imenso bem-querer! Ir. do Coração de Maria – Filomena Alves Carneiro.

Nasceu em Artur Nogueira, SP, no dia 29 de setembro de 1924. Seu pai: José Alves Carneiro. Sua mãe: Guilhermina da Conceição. Consagrou-se a Deus, na Congregação das Irmãs Calvarianas, no dia 25 de janeiro de 1949. A Renovação dos votos religiosos nas Comunidades de Nossa Senhora da Ressurreição aconteceu no dia 29 de junho de 1971. Do falecimento 15 de julho de 1972. Generosa, empreendedora, Ir. Coração de Maria apressou-se em partir para a casa do Pai; quis ser a pedra fundamental das comunidades de Nossa Senhora da Ressurreição, no céu. Um câncer galopante a vitimou levando-a de nosso convívio; Ir. Coração! Muito nova para morrer… 52 anos apenas!… Mas, com certeza, você viverá em dobro e pôde dizer com S. Paulo: “Combati o bom combate…”. Terminei minha jornada… Guardei a fé.” (2 Tm 4,7) Seu lugar estava preparado na casa do Pai, onde “há muitas moradas” e você foi receber a recompensa preparada por Jesus, para aqueles que O amam, como você O amou! _Maninha querida, que caminhos você percorreu para chegar tão depressa a este final feliz? Valendo-me de minhas recordações, vou tentar deixar aqui alguns traços de sua vida tão curta, mas tão bonita! Você foi Religiosa, Consagrada, Educadora! Você viveu sua consagração, na dedicação total de sua vida aos Pequeninos do Reino. Jovem religiosa, seu primeiro trabalho de educadora aconteceu no Instituto Sta. Teresinha, em São Paulo, dedicado à educação das “meninas deficientes auditivas”.

Lá, juntamente com Ir. Celina e outras devotadas mestras, vocês realizavam “o milagre de fazer mudas falarem”. E elas falavam mesmo! Declamavam poesias na Rádio Tupi e realizavam bailados, num ritmo perfeito, nas comemorações festivas do colégio! Tudo tão bonito! Tão gratificante! Do Instituto Sta. Teresinha – SP você saiu para outras Escolas Calvarianas, semeando valores humanos e cristãos, no coraçãozinho dos nossos alunos. Alguns anos mais tarde, tive Ir. do Coração do Coração de Maria como minha companheira de caminhada na fundação do Colégio Nossa Senhora do Calvário, hoje, Colégio Madre Margarida Maria, em S. Paulo. De lá fomos transferidas, quase ao mesmo tempo. Vim para Catanduva e Ir. do Coração de Maria, foi designada para Campinas, onde iria colaborar com Ir. Zilah na fundação do colégio Madre Cecília. Algum tempo depois, novamente nossos caminhos se encontravam. Ir. Coração veio trabalhar conosco em Catanduva. Foi secretária do colégio, co-fundadora do Curso Supletivo de 1º e 2º grau, dedicando-se com entusiasmo e muito carinho aos alunos, ajudando-os nas suas dificuldades junto aos professores e junto à administração, na redução das mensalidades. Apesar da saúde um tanto precária, foi um período de intensa atividade: alem de secretária, professora do 4º ano do curso primário, e aluna brilhante do curso de Pedagogia na Fafica, que funcionava à noite nas dependências do colégio, e catequista do centro de catequese, que reunia aqui aos domingos as crianças da Vila Lunardeli, para formação religiosa e lazer.

Em meio a tantas atividades, nenhuma lhe foi tão cara e gratificante, quanto à de educadora das suas aluninhas do 4º ano primário. Até: – Tânia Tornatore Machado, que nos legou este belo testemunho:

Boas lembranças sempre ficam Nesses últimos dias andei pensando nos professores que tiveram alguma influência na minha formação. E foi bem gostoso, voltei a me sentir aquela aluna com uniforme, ora um vestido xadrezinho e cinto vermelho, ora saia xadrez e blusa branca, ora saia e jaqueta verde oliva. A escola foi mudando de uniforme, sempre acompanhando a modernidade e o conforto. Junto com a lembrança do uniforme comecei a separar os professores: esse sim, esse não, aquele era engraçado mas…, hum! Essa é essa! Durante essa “viagem no tempo“ tive a certeza quem era a pessoa escolhida. Falava manso, era meiga, ria delicadamente (Já viu isso? Ela era assim mesmo). Tinha sempre um sorriso na face, dava passos rápidos, era um pouco curvada, usava vestidos até o meio da perna e também um véu na cabeça.

Era a minha professora de 4ª série, Irmã Coração de Maria. Tinha um jeito todo dela de ser, conquistava todas as classes que por ela passavam. Gostava de dar trabalhos em grupos, usava giz colorido para dar destaque às lições, desenhava e pintava muito bem. Tínhamos aulas de bordado, na qual ela tinha uma paciência enorme. Colocava a linha na agulha para a maioria e achava graça quando uma aluna dava uns pontos no guardanapo e depois percebia que a saia estava presa, era uma folia. Gostava de provocar debates, mas tudo transcorria com muita ordem e respeito. No começo do ano, ela combinava certas regras com a classe, (Eram só meninas) que ficavam registradas no caderno diário e ela fazia um cartaz para que a gente não esquecesse do combinado. Do tipo: falar um de cada vez, levantar a mão e esperar a vez, trazer a tarefa todos os dias, cada dia uma aluna distribuiria os cadernos de tarefa, deixar seu lugar em ordem e assim por diante. No dia de exposição de algum trabalho, ela mudava as carteiras de lugar, fazendo dois semicírculos, era bem descontraído.

Durante o 1º semestre desse ano (1968) eu tive reumatismo infeccioso e precisei fazer repouso absoluto. As colegas iam me visitar, levavam os cadernos, as tarefas e ela ligou várias vezes para saber como eu estava. Certa manhã estava assistindo televisão deitada no sofá quando ela apareceu, me levou um pirulitão e um livro de histórias. Pegou na minha mão e fez uma oração. Fiquei muito feliz com sua atenção e carinho. Nas férias de julho eu sarei, mas meu pai morreu. Foi muito triste, pois da descoberta da doença até a morte, foi um mês. Quando voltei em agosto, lembro-me como foi importante o jeito que ela me recebeu e me tratou. Igual as outras meninas, beijos na entrada, mas sem nenhuma regalia. Queria ser tratada como as outras, (sem sentimento de pena) e sem eu falar nada, ela me conhecia tão bem que não fiquei insegura, nem melindrada, um dia sequer. Lembrei também, que foi nesse ano, que nós, todas as meninas da classe, tínhamos um “diário de recordações”, onde pedíamos para as pessoas amigas deixarem uma mensagem.

Fui procurá-lo, tirei uma xerox e estou dividindo essa querida lembrança com você. Tânia, “A felicidade não vem de fora. Sai do seu mais íntimo. Você nasceu para ser feliz. Feliz acima de todas as coisas. A melhor felicidade é fazer os outros felizes”. Um abraço amigo de sua mestra. Ir. do Coração de Maria Fiquei no Colegião até 1974, saí para fazer magistério. Perdi o contato com a Irmã Coração de Maria. Estava em São Paulo quando soube que ela falecera de câncer. Em 84 resolvi iniciar meu trabalho como professora e fui bater aonde a procura de emprego? Claro, no Colegião. Primeiro conversei com a Madre Terezinha, depois fiz uma entrevista coma Irmã Ana e após uns dias fui chamada. Tinha aberto uma vaga, sabe para qual classe? Para a 4ª série.

Na hora, me veio uma série de lembranças e percebi, que como foi um ano marcante em minha vida, eu também queria “ser responsável pelos alunos que viria a cativar”. Só sinto ela nunca saber como foi importante para mim. * * * Homenagem bem merecida prestou-lhe nosso professor Waldemar Tadine. Suas filhas foram alunas da Ir. Coração de Maria, no 4º ano primário. Nomeado Secretário Municipal de Educação, fez construir uma Escola Infantil,nas vizinhanças do colégio e dedicou-a à educadora de suas filhas: “Curso Infantil Irmã do Coração de Maria”. Estivemos presentes à sua inauguração e, sensação estranha, pareceu-nos que Ir. Coração de Maria estava lá para nos receber!… A atenção e o carinho que ela dedicava a seus alunos eram os mesmos que ela partilhava conosco. Sua presença fraterna, seu sorriso afável, a doçura no trato eram constantes para com cada uma de nós. No afã de querer ser útil, desejou muito ser motorista. Queria me levar para as visitas às Comunidades. Tanto insistiu que Irmã Noemi veio me dizer: _Madre, se a senhora permitir, vou ensinar Ir. Coração de Maria a dirigir. Ela deseja tanto! _Está bem, Ir. Noemi, veja se ela vai ser capaz… E começaram as aulas. Cheguei de viagem e encontrei as duas de cama. Que foi que aconteceu? Numa aceleração descontrolada, a aluna inexperiente, jogara a Kombi contra o barranco, ali na estrada de Novais. Nada de muito grave. Só que Ir. Noemi, meio chorosa, resmungava: _Ah! Eu tinha uma “coluninha jóia”, e a Ir. Coração acabou com ela! E o que acabou também foi a experiência frustrada! Só o que valeu mesmo foi a boa vontade de ambas!

Dentre os inúmeros gestos fraternos de nossa irmãzinha, gosto de recordar a dedicação e a constância com que, duas vezes por semana, ela aguardava a chegada de Ir. Miriam, ao voltar das aulas que ela ministrava na Faculdade de Monte Aprazível. Uma sopa quentinha, as luzes dos corredores acesas e o carinho sorridente de Ir. Coração de Maria acolhiam a Ir. Miriam. É que lhe doía no coração pensar na Ir. Miriam chegando tarde da noite, enfrentando o escuro dos corredores do colégio, até chegar ao seu quarto.

Momentos como este se repetiram ao longo dos seus dias, até que um câncer galopante a vitimou, após muitos dias de sofrimento no Hospital Santa Helena, em S. José do Rio Preto. Dra. Reny Volpato Bertazzo, nossa ex-aluna, grande amiga e médica competente, tratou-a com o maior carinho e eficiência, sem conseguir restituir-lhe a saúde. Ir. Maria da Glória, Ir. M. das Graças, Ir. Fátima e eu nos revezávamos junto dela, no seu leito de dor. Pediu que chamássemos o Pe. Marini para administrar-lhe os sacramentos. Após atendê-la o Pe. Marini me disse: _Fique, sempre que a senhora puder, junto dela, repetindo-lhe que Deus-Pai a ama e lhe prepara um lugar muito bonito, lá na sua casa. Ela está com muito medo de se encontrar com Deus! Procurei fazer isto, da melhor maneira possível, até que uma noite, em que Ir. M. da Glória iria me substituir junto dela e eu iria dormir em casa, tocou o telefone.

Era Ir. Coração, com voz rouca, quase sumida, me pedindo que fosse passar a noite com ela. Voltei na mesma hora. Que noite dolorosa! Ir. Maria da Glória, a Emilia, irmã dela e eu fizemos o que podíamos para aliviar-lhe o sofrimento… Na manhã seguinte, Ir. M. das Graças chegou para fazer-lhe companhia, enquanto íamos em casa, tomar um banho e trocar de roupa e voltar para o Hospital. Ofélia Banhos, gentilmente nos levara em seu carro. Apenas tínhamos chegado e o telefone tocou. Era Ir. M. das Graças nos pedindo que voltássemos imediatamente, Dra. Reny estava lá e Ir. Coração de Maria estava agonizando. Emília estava no banho. Não podia esperá-la. Ofélia me levou de volta, graças a Deus pude ficar com ela, segurando-lhe a mão, até que Dra. Reny, que escutava seu coração nos disse: o coração parou de bater… Fechei-lhe os olhos e a convite da Reny, rezávamos juntas o Magnificat, louvando a Deus: o sofrimento passou… Ir. Coração de Maria voara para o céu. Era o dia 15 de julho de 1976. Ir. Coração de Maria Você combateu conosco o bom combate da Ressurreição! Caminhou conosco os íngremes caminhos da libertação interior… Guardou a Fé no Cristo que nos chamou a viver a Comunhão Fraterna, como sinal de Ressurreição, no trabalho na oração no acolhimento, dedicação e amor a todos os irmãos, principalmente aos jovens e pequeninos. Sua jornada de luz foi testemunho da Presença Viva do Cristo, na Terra dos homens.

Você foi começar as comunidades da Ressurreição no céu e nos ensinou como se vive na Fé, na coragem e na Esperança a última passagem da vida para a Vida. Agora, descanse em Paz, maninha querida, na casa do Pai, no doce convívio de Nossa Senhora da Ressurreição e espere por nós até o dia feliz do eterno encontro!

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